segunda-feira, dezembro 25, 2006

Mercado informal continuará forte

Crescimento ocorre principalmente por causa da elevada carga tributária sobre empresas e trabalhadores

Irany Tereza, RIO

A taxa de desemprego continuará caindo, mas lentamente, no ritmo da economia “que cresce pouco, mas cresce”. Essa é a avaliação do economista José Márcio Camargo, da consultoria Tendências. Porém, segundo ele, apesar do forte ritmo de crescimento do emprego formal, a informalidade continuará sendo a base do mercado, com mais da metade da força ocupada. “É razoável pensar que o mercado formal encontrará um ponto de equilíbrio em torno de 45%.”

Camargo atribui o fenômeno à alta cunha fiscal, que onera em demasia o custo das empresas e faz boa parte dos trabalhadores optar pela informalidade, em busca de rendimentos maiores, sem o desconto da carga tributária. O crescimento recente das vagas formais, acredita, deve-se ao avanço do setor exportador, obrigatoriamente formal, e a mudanças na legislação, como o banco de horas, que diminuíram um pouco o custo da formalização.

Já o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo de Ávila, pondera que um exercício de simulação que iguale todas as regiões do País ao mesmo perfil metropolitano dos seis maiores centros urbanos - o que considera irreal e estatisticamente incorreto - revelaria, aproximadamente, a criação de 8 milhões de empregos. “Não são os 10 milhões prometidos, mas é um número bastante forte.”

Das quase 2,5 milhões de vagas criadas de 2003 a 2006, nas regiões pesquisadas pelo IBGE, quase metade (1,3 milhão) ficou concentrada na faixa de trabalhadores entre 24 e 48 anos, segundo mostra a compilação feita pelo Ipea. A decomposição dos dados expõe a boa notícia do fraco crescimento do trabalho infantil: só 13 mil empregos foram dirigidos a crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos que, pelos critérios estatísticos, pertencem à camada da chamada “população em idade ativa”. Entre os com idade entre 15 e 17 anos, foram 12 mil. Mas também o jovem trabalhador, entre 18 e 24 anos, teve pouco espaço: 172 mil novas vagas.

“A competitividade do mercado de trabalho beneficia as empresas e pune o trabalhador que busca ingressar no mercado. Pessoas um pouco mais velhas, com alguma experiência e qualificação têm a preferência pela vaga”, diz Ávila, referindo-se à relação entre a oferta e a procura no mercado.

Essa corrente é considerada natural e positiva pelo economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), para quem o programa do governo para estimular o aumento de vagas para os jovens é equivocado. “O Primeiro Emprego é um erro, subsidia a troca de um pai de família por um jovem no mercado de trabalho. Por sorte, foi feito de maneira errada e não deu certo.”

Urani argumenta que, no mundo inteiro, a prioridade de acesso ao trabalho não recai sobre o jovem. A demora no acesso ao mercado, acompanhada de maior permanência na escola, é positiva para elevar a qualificação e a competitividade dos trabalhadores. “Eles terão mais condições de entrar no mercado pela porta da frente e não pela dos fundos.”

O que vem massacrando o ingresso ao primeiro emprego, diz ele, é a migração industrial, que retira capacidade de oferta dos grandes centros, que não encontram outra vocação de mercado. Este cenário se verifica principalmente em São Paulo, que vem perdendo o perfil industrial sem substituí-lo por um quadro de serviços à altura de absorver a força de trabalho. Também ocorre nos subúrbios do Rio. “As regiões metropolitanas estão tendo muita dificuldade de se reinventar.”

Extraído de
O Estado de São Paulo
Economia & Negócios

25 de dezembro de 2.006