quarta-feira, janeiro 21, 2009

O desemprego em alta

O desemprego em dezembro dá uma ideia mais clara, e nada animadora, do tamanho da crise instalada no País desde o trimestre final de 2008. No mês passado, foram fechados 654.946 postos de trabalho formais, segundo informou o governo. Foi mais que o dobro do número registrado um ano antes, quando foram demitidos, em termos líquidos, 319.414 trabalhadores com carteira assinada. O aumento das demissões é normal no fim do ano, principalmente na indústria, depois de encerrada a produção para o Natal. Desta vez, no entanto, as dispensas foram surpreendentes, mesmo levando-se em conta a piora das condições econômicas. Se o presidente da República e seus ministros têm novos planos para reanimar a economia, não devem esperar muito mais tempo para iniciar sua execução.

O cenário ainda está incompleto, porque muitos números do fim do ano ainda não foram divulgados. As informações sobre o comércio exterior, já conhecidas, confirmaram a perda de impulso das exportações e a contínua redução do superávit comercial. Nas três primeiras semanas de janeiro o intercâmbio de mercadorias continuou piorando e até dia 18 o Brasil acumulou um déficit de US$ 390 milhões. Esse dado é mais um indicativo da tendência de redução de emprego.

Outras informações publicadas em janeiro confirmaram a deterioração do ambiente econômico. Só nesta terça-feira a Confederação Nacional da Indústria (CNI) distribuiu os indicadores setoriais de novembro. O faturamento real foi 9,9% menor que o de outubro e 7% inferior ao do mês correspondente de 2007. As horas de trabalho na produção diminuíram apenas 1,5% entre outubro e novembro, pouco mais do que o emprego (0,6%), e ficaram 2,9% acima do número registrado um ano antes. A produção ainda se retraiu bem menos que as vendas, mas esse descompasso não dura muito tempo. O ajuste começou no mês seguinte, como indicam os dados sobre o emprego formal divulgados nesta semana pelo Ministério do Trabalho.

Das 654.946 demissões no setor formal ocorridas em dezembro, em termos líquidos, 273.420 foram registradas na indústria, segundo os números do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) mantido pelo Ministério. Informações do setor privado vêm mostrando, nos últimos meses, demissões maiores nos setores mais dependentes do crédito ao consumidor, como o automobilístico e o eletroeletrônico. Mas a piora das condições atingiu, com intensidade variável, a maior parte dos setores. Os números do desemprego ainda não mostram a generalização da crise, mas os de vendas e de produção não deixam dúvida quanto à tendência.

Dirigentes sindicais encontraram-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros na segunda-feira, quando as últimas informações do Caged foram divulgadas. O presidente não exibiu nenhum plano de ação detalhado, mas prometeu novos cortes de impostos. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, criticou os grandes spreads dos bancos - a diferença entre o custo de captação das instituições e os juros cobrados nos empréstimos.

Na semana passada, algumas centrais discutiram com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) a redução temporária de salários e de horas de trabalho, como forma de enfrentar a crise. Os industriais não prometeram a manutenção de empregos depois de encerrado o período desses acordos. As discussões foram interrompidas, enquanto se esperava o encontro com o presidente da República. A hesitação das centrais, no entanto, não tem impedido a multiplicação de acordos. Um dos últimos ocorreu na fábrica da Volkswagen de Taubaté, onde as partes combinaram a efetivação de 450 trabalhadores, a renovação de contrato de 200 e a redução da jornada de trabalho, sem diminuição do salário. Não serão prorrogados, no entanto, os contratos de 15 empregados. Se a crise se agravar, os primeiros demitidos serão os funcionários de contrato mais novo.

Empresários e trabalhadores não podem fazer muito mais que arranjos limitados como esse. Reconhecer esse dado é uma questão de realismo. Só o governo tem meios para cuidar com eficiência de problemas tipicamente macroeconômicos, como inflação ou recessão, e este é o caso, neste momento.

ESTADÃO