terça-feira, fevereiro 27, 2007

Metade dos desempregados no país tem até 24 anos, aponta pesquisa

KAREN CAMACHO
da Folha Online

Os jovens de 15 a 24 anos estão enfrentando cada vez mais dificuldades para entrar no mercado de trabalho e sofrem mais com o desemprego do que os demais grupos de trabalhadores. Em 2005, 49,6% dos desempregados eram jovens, contra participação de 47,6% em 1995, de acordo com estudo divulgado nesta terça-feira pelo economista Márcio Pochmann, professor da Unicamp, com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Dos 8,9 milhões de desempregados no país em 2005, 4,4 milhões tinham entre 15 e 24 anos. A população jovem somava 35,1 milhões em 2005.

A taxa de desemprego subiu mais para as mulheres do que para os homens, 77,3% e 57,7%, respectivamente. O motivo, segundo Pochmann, foi o aumento da procura por trabalho pelas mulheres nesse período. De maneira geral, o desemprego cresceu mais entre os jovens de até 24 anos: 106,9% contra 90,5% dos demais grupos.

"Dez anos depois a situação do jovem se agravou no país, a despeito dos esforços e dos programas de iniciação profissional e há um estrangulamento na entrada do jovem no mercado de trabalho", afirmou Pochmann.

A geração de emprego, segundo o estudo, não acompanhou o crescimento da população e, entre as vagas, apenas 10,4% foram ocupadas por jovens nessa faixa etária. De 1995 a 2005, o Brasil criou 17,5 milhões de postos, sendo 1,8 milhão para jovens. Nesse mesmo período, 4,2 milhões de jovens tentaram um vaga no mercado de trabalho.

A pesquisa também mostra que houve aumento da escolaridade de 14,4% dos jovens de 1995 a 2005, chegando a 46,8%. A alta se observa, principalmente, entre os homens, onde o índice de escolaridade passou de 38,9% para 46,4% e, entre as mulheres, subiu de 42,8% para 47,6%.

"Isso mostra que o jovem buscou elevar a escolaridade combinando com a o trabalho, indicando que o Brasil tem jovens que trabalham e estudam, ao contrário da tendência dos países desenvolvidos, que postergam o ingresso dos jovens no mercado", disse Pochmann.

No Brasil, a cada 100 jovens entre 15 e 24 anos, 65 são ativos no mercado, trabalhando ou procurando emprego. Nos países desenvolvidos, são 30 em cada 100.

Entre a baixa renda, como a necessidade do trabalho é ainda maior, também há mais jovens em atividade. Segundo o estudo, nas famílias com até meio salário mínimo por pessoa, a cada 100 jovens, 74 estão ativos no mercado, sendo 20 desses desempregados.

Já entre as famílias com maior nível de renda (acima de três salários mínimos por pessoa), a cada 100 jovens, há 65 ativos no mercado e somente nove desempregados.

"Não apenas a economia nacional registra baixo crescimento, incapaz de gerar ocupações para todos que ingressam no mercado de trabalho, como o jovem vendo sendo o principal afetado negativamente por essa situação", afirmou o economista.

Para ele, seria necessário programas que financiassem o jovem em atividades fora do mercado de trabalho para reduzir a pressão que exercem na população economicamente ativa e para que o jovem tivesse mais condições de se preparar para as atividades profissionais.

domingo, fevereiro 25, 2007

Trabalhador rural "foge" do registro em carteira no Nordeste

por Fernando Canzian, na Folha de S. Paulo

Por medo de perder benefícios sociais pagos pelo governo, ou na esperança de conquistá-los, trabalhadores rurais no Nordeste estão se recusando a aceitar empregos com a carteira de trabalho assinada.

A recusa ocorre tanto entre beneficiários do Bolsa Família quanto entre os que querem entrar no programa. Também entre os que pretendem se aposentar mais cedo, pelo regime especial da Previdência - aos 55 anos no caso das mulheres e 60 anos no dos homens.

Em uma das maiores fazendas de café da Bahia, na Agribahia, a dificuldade em contratar mão-de-obra formal levou à substituição de 5 mil trabalhadores em safras passadas por colheitadeiras operadas por um único funcionário.

Hoje, a empresa contrata apenas cerca de 900 pessoas para fazer a colheita em áreas de declive, onde as máquinas correm o risco de tombar.

Mesmo assim, são necessárias iniciativas como anúncios em rádio e em carros de som em feiras para arregimentar gente disposta a ter a carteira assinada por três meses ou mais e ganhar, como base, um salário mínimo por mês.

Próximo à Agribahia, na fazenda Campo Grande, o administrador André Araújo, 27, diz precisar de 150 pessoas para a colheita, mas que só consegue 40 com registro em carteira.
O resultado é que o café acaba caindo de maduro do pé, com perda de qualidade. Por um café arábica “mole” que poderia valer R$ 300 a saca, a Campo Grande acaba recebendo R$ 200 pelo café “riado” catado depois no chão.

A agricultora Luciene Silva Almeida, 28, é uma das que fogem do registro em carteira. Ela trabalha ilegal na região de Brejões (281 km ao sul de Salvador), apesar da forte fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho, que vem multando fazendeiros que contratam pessoal sem carteira assinada.

Mãe de dois filhos, Luciene quer pleitear o Bolsa Família e planeja se aposentar pelo regime especial da Previdência, aos 55 anos. Se ela for registrada, pode correr o risco de extrapolar os critérios que a tornam elegível ao Bolsa Família.

Isso também a tiraria da condição de futura “segurada especial”, tornando-a “assalariada rural”. A aposentadoria “especial” é um benefício social, já que o trabalhador não contribuiu com a Previdência.

Além de não poder mais se aposentar aos 55 anos, ela teria de contribuir por mais 13 anos para a Previdência e se aposentar só aos 60. Outra opção é esperar até os 65 anos e passar a receber, via Estatuto do Idoso, um salário mínimo por mês.

Foi o que aconteceu com Joselita Oliveira dos Santos, 57, que foi “fichada” por três meses há três anos. Ao tentar se aposentar aos 55 anos, teve o pedido recusado. “Agora não quero mais nenhum registro até conseguir me aposentar”, afirma.

Simone da Silva de Jesus, 27, que trabalha arregimentando pessoal para os fazendeiros, diz estar cada vez mais difícil encontrar gente disposta a ser “fichada”. “O pessoal do ‘Bolsa’ e os mais velhos não querem.”

A irmã dela, Maria da Glória, 47, é uma delas. Mãe de cinco filhos, recebe R$ 80 do Bolsa Família e conta os dias para se aposentar aos 55 anos. “Nunca tive a carteira ‘fichada’. Não é agora que vou arriscar”, afirma.

Sindicatos de produtores rurais de Bom Jesus da Lapa (BA) e de Petrolina (PE) relatam o mesmo tipo de dificuldades.

O secretário de Previdência, Helmut Schwarzer, reconhece a existência do problema. A secretária Rosani Cunha, do Ministério de Desenvolvimento Social, diz que as “distorções” ocorrem por “desinformação”. Já o Ministério do Trabalho promete manter “rigorosa fiscalização” no Nordeste.